Sessenta e três reais: rivalidade entre consumo X estudos

Consumo X estudos. Candidata do ENEM reclama de pessoas que criticam a taxa de inscrição. Crédito: G1 Globo
Candidata do ENEM reclama de pessoas que criticam a taxa de inscrição. Crédito: G1 Globo

A cena é velha, chega o final do ano, o aniversário, as datas especiais e lá vem o filho pedir para o pai:
-Pai, quero o dinheiro para comprar o Iphone!

Muitos acabam não resistindo a vontade dos filhos e vão lá, abrem o bolso e põem a mão no dinheiro e entregam ao filho. Em poucas horas, lá está, o objeto valioso da Apple na mão desse jovem, geralmente custando um preço entre 2000 e 6000 reais dependendo do modelo e do ano.

Uma cena inesquecível que fica na cabeça do jovem que, mais tarde, vai exibir suas fotos no Instagran, ou mesmo ficar lá no Whatsapp e até, em ocasiões mais extremas, mostrar para os amigos que agora possuí um “bom aparelho celular”, o da última geração.

Tão logo os jovens entre 15 e 18 anos adotam o Iphone como se fosse seu “filho”, logo são aceitos pelo seu grupo de jovens; estes vão logo sendo cercados por outros adeptos e, em pouco tempo, uma galera que compartilha o mesmo gosto pela tecnologia está lá, reunida, todos exibindo uns para os outros os seus “últimos” modelos, os de lançamento mais recente.

Já quando o assunto é o seu futuro profissional, a nova taxa imposta pelo Ministério da Educação (MEC) a inscrição do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) já gera críticas:

-SESSENTA E TRÊS REAIS É MUITO CARO!

Eu, como jornalista, logo imagino: Se você teve dinheiro o suficiente para dar no Iphone, por quê sessenta e três reais é caro? Não deveria ser ao contrário?

Por que os jovens tem duas reações a esse assunto? Se de um lado, um aparelho celular de 2000, 4000 mil reais é muito importante para a vida desse jovem, então por que estamos vendo uma onda de pessoas reclamando que o preço de uma prova é caro?

A explicação desse fator é histórica:

O Brasil foi um dos últimos países da América Latina a implementar a educação básica,como sistema de ensino, ainda nos tempos do Império. E ainda assim, nosso método é todo baseado em um modelo tecnicista, no qual o aluno é condicionado a “memorizar” o conteúdo, ao invés de fazer as conexões lógicas entre outras matérias pertinentes.

Caso específico é o assunto de Verbos na área de Gramática em que, nossas Gramáticas trazem aquela lista de verbos e tempos a serem memorizados até hoje, fato que nem existe mais em Portugal, nosso colonizador.

Então, o que foi condicionado no modelo de educação imposto pelo Brasil, foi o fato de que os estudantes brasileiros estão acostumados ao “pronto”, ao “tudo é fácil”. Nossos jovens priorizam os bens materiais do que simplesmente pagar um processo seletivo que vai decidir seu futuro.

Imagina só a pergunta: O que é mais prático: ter um Iphone ou estudar a longo prazo? Grande maioria dos jovens vão dizer que estudar é chato, que tudo está no Google, e que ler os livros físicos (aqueles que não estão na internet) são coisas chatas e complexas demais para eles, então, mais vale ter um Iphone do que passar anos (para alguns) tentando a inscrição para o ENEM, estudar e não ter o sucesso esperado. Nossos jovens não trabalham (ou pouco trabalham) com conquistas, mas sim, imediatismos.

E é nisso que muitos pais caem. É mais fácil entregar o dinheiro para o filho achando assim que ele vai estudar. Deixamos de formar um cidadão, preparando-o para o mundo baseando-se na sua luta e persistência, para continuar com velhos hábitos, mesmo esse jovem tendo crescido, estando lá no auge de seus 17, 18 anos. É tradição das famílias se prender a fatos do passado, como é o caso da recompensa, seja ela financeira, seja ela material.

E nesse caso, quase sempre quem vence é o consumo, uma vez que muitos desistem de ficar longos e longos anos tentando uma vaga nas universidades federais, e lá vai o pai, além de já ter gastado o dinheiro no consumo de um “Iphone” ter que arcar com as despesas das mensalidades do filho nas Instituições de Ensino Superior Privadas.

Sessenta e três reais da inscrição do ENEM não representam nem um quarto do valor do aparelho da Apple, o que temos de condicionar é nossos jovens a pensar, primeiramente, em valores (no sentido ético), para depois se alcançar o consumo.

O preço do Iphone custeia pelo menos seis ou sete cursos profissionalizantes e até mesmo, em algumas regiões do Brasil, o preço do curso preparatório do ENEM, e o retorno, sem dúvida, se o jovem souber esperar, será promissor em seu futuro.

Texto: Ivan Carlos

Comentários no Facebook