A derrota faz parte da carreira. É preciso saber ser melhor com ela.

A derrota faz parte da carreira. É preciso saber ser melhor com ela - Fonte: Ricardo Kaka
A derrota faz parte da carreira. É preciso saber ser melhor com ela – Fonte: Ricardo Kaka

” Kaká, talvez você não consiga mais jogar futebol”.

Eu tinha 18 anos, já me destacava na base do São Paulo, e tinha acabado de fraturar a sexta vértebra em um acidente num toboágua. Eu não sabia na época, mas estava prestes a aprender uma das maiores lições da vida.

Mas vamos voltar um pouco…

Nasci e passei meus primeiros quatro anos de vida em Brasília. Mas foi em Cuiabá, onde morei os três anos seguintes, que tive meus primeiros contatos com a bola. Era pequeno, mas já conseguia mostrar que tinha talento para a coisa.

Meu professor de Educação Física enxergou essa minha qualidade e me incentivou a procurar um clube para treinar. Aos sete anos, eu e minha família nos mudamos para São Paulo.

Pela primeira vez, tive que brigar com o meu corpo para fazer aquilo que eu mais gostava. Com dois anos de atraso na idade óssea, era difícil para mim competir com os outros garotos. Imagine o seguinte: tinha 14 anos e tamanho de 12.

Mesmo assim, não desisti. Tinha apenas um sonho: me tornar jogador profissional pelo SPFC e jogar pelo menos um jogo pela Seleção Brasileira.

Quando eu coloco esse desejo em perspectiva com a minha carreira, parece que eu pensava pequeno. Mas quantas pessoas não querem se tornar jogador de futebol no nosso país? Ainda mais em vestir a amarelinha.

Aos 15 anos, depois de fazer um tratamento com exercícios físicos e suplementação nutricional, tive certeza de que iria com tudo atrás do meu objetivo.

A carreira de atleta é muito exigente. Precisamos nos afastar da família, nos privar da nossa liberdade, dos nossos finais de semana, da nossa liberdade.

O que mais me motivou a começar a jogar futebol era o amor que eu tinha pelo esporte e o sonho de ser um ótimo jogador, além da diversão que era jogar com meus amigos, fazendo uma coisa que eu gostava. Mas quem olha de fora não consegue perceber o quão doloroso é ser um jogador profissional.

Dois meses depois de ouvir que talvez eu não conseguisse mais jogar futebol, fiz minha estreia pelo time profissional do São Paulo. Pouco tempo depois, marquei os dois gols que deram o título do Torneio Rio-São Paulo para o meu time.

A lição? Não existem derrotas definitivas na nossa carreira. Cada tombo é uma grande lição a ser tomada. Cabe a cada um de nós crescer o máximo possível com as quedas, para se reerguer ainda melhor.

Minha compreensão final dessa questão de ter que lidar com os altos e baixos veio com o tempo.

Você já deve conhecer a história: chegamos à decisão da temporada 2004/05 da UEFA Champions League contra o Liverpool. No primeiro tempo, abrimos 3 a 0. Depois do intervalo, nosso jogo foi pelo ralo. Os ingleses empataram e levaram o caneco nos pênaltis.

Ninguém parecia entender o que tinha acontecido. Sabe por que? Porque não tinha nada para entender.

Eu só sabia que precisava me preparar melhor. Tinha que focar para aumentar minhas chances de ganhar. Isso incluía trabalhar da melhor forma o meu físico, minha mente, minha técnica, minha tática e o meu campo espiritual.

Em 2007, chegamos novamente à final do torneio. E o adversário era novamente o Liverpool. Ganhamos por 2 a 1 e, no fim do ano, fui escolhido pela FIFA como Melhor Jogador do Mundo.

Ganhar ou perder, tanto na vida, quanto no esporte, estão fora do nosso controle. Aprendi que a derrota faz parte do jogo e que nós precisamos tirar as maiores lições dela. Só assim poderemos nos tornar, de fato, melhores.

Fonte: Ricardo Kaká – https://goo.gl/Mg6CSd

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