Seca em São Paulo, Cantareira chega a 100 dias de queda

Baixa em Sistema Cantareira, São PauloSeca em São Paulo

Cantareira chega ao 100º dia de queda. Dados são da Sabesp; média de chuvas foi 58% do esperado no ano.
A chuva de domingo (31) não impediu que o Sistema Cantareira acumulasse o 100º dia consecutivo de queda no nível dos reservatórios nesta segunda-feira (1). Desde o dia 25 de maio, quando o nível estava em 25,6% da capacidade das represas, foram mais de três meses com queda nos índices, segundo dados da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).

No dia 24 de maio, o sistema tinha conseguido repetir o mesmo nível registrado no dia anterior, de 25,7% da capacidade. Desde então, a quantidade de água nas represas baixou todos os dias.

Nesse período, o Cantareira perdeu 14,8 pontos percentuais da capacidade das represas. O nível na manhã desta segunda-feira era de 10,8%.

Além de perder água há 100 dias, o sistema não consegue aumentar seu nível há 138 dias. Foi em 16 de abril que as represas operaram com 12,3% de sua capacidade, 0,3 pontos percentuais acima do registrado no dia anterior.

Seca

O mês de agosto, a exemplo de outros seis meses do ano, terminou com chuvas abaixo da média histórica. Foram 22,7 milímetros contra o esperado de 36,9 milímetros. Dos oito meses do ano até agora, apenas em março choveu mais do que a média. Ao longo dos oito primeiros meses de 2014, a precipitação acumulada foi de 58% do esperado, o que agravou a crise no abastecimento da Grande São Paulo.

A falta de água tem mudado tanto o cenário das represas como o modo de vida de quem reside perto delas. Nas proximidades da Represa de Nazaré Paulista, o músico Aparecido Ribeiro aponta queda na quantidade de turistas que procuravam a região para atividades na água. “A pessoa chega aqui e pergunta: cadê a água. Eles se decepcionam com o que veem”, relatou ele, que começou a trabalhar no projeto no início do ano.

O tanque de peixes dele não baixou porque é abastecido por uma mina que desce de um morro ao lado, mas a sogra precisou fechar um bar às margens do canal do Rio Acima, entre Nazaré Paulista e Mairiporã.

“Não passava mais barco, então não tinha movimento. A situação só melhorou um pouco porque a Sabesp começou a bombear água da represa para o canal”, disse Ribeiro. Não é difícil encontrar barcos fora da água e pedras às margens de reservatórios do Sistema Cantareira na Grande São Paulo. O mecânico Marcos Vieira Henrique é frequentador assíduo da Represa de Nazaré Paulista e tem acompanhado de perto o nível da água baixar.

Durante um passeio de moto aquática, ele bateu em um banco de areia no meio da represa. Em apenas uma semana, o mecânico relatou que a água baixou cerca de 1,5 metro. “Nas marinas, não dá mais para descer o jet [moto aquática]. Estão vendendo os barcos”, afirmou o mecânico.

Vazamentos

Outro problema que agrava a crise no sistema é a quantidade de água desperdiçada antes mesmo de chegar ao consumidor. No ano de 2012, São Paulo perdeu 36,3% da água tratada pela Sabesp segundo pesquisa do Instituto Trata Brasil com base em dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS).

As perdas ocorrem por causa de vazamentos na distribuição, ligações clandestinas, roubos e falta de medição. Os dados são os mais recentes disponíveis no SNIS e colocam a capital paulista em 25º lugar no “Ranking do Saneamento Básico nas 100 Maiores Cidades do País”, divulgado pelo Trata Brasil. A metodologia foi desenvolvida pela empresa de consultoria GO Associados.

A Sabesp rebateu os dados afirmando que, se considerado apenas os vazamentos, a empresa tem índices melhores que o de países desenvolvidos. “Esse indicador era de 20,3% no início de 2014 e já caiu para 19,8% em junho/2014. Nos melhores sistemas do mundo, como Japão e Alemanha, as perdas físicas estão em torno de 8%. No Reino Unido são de 16%, na Filadélfia (EUA) são 25,6%, na França, 26%, e na Itália, 29%”, informou a companhia em nota.

Entretanto, a empresa não detalhou os dados, apontando se eles refletem a situação na cidade ou no estado. A companhia informou ainda que prevê aplicar R$ 6 bilhões, entre 2009 e 2020, para atingir índices de perdas de 16,7%. A empresa diz já ter aplicado R$ 1,45 bilhão e que conta com financiamento do Japão.

Motivo da crise

A crise no Cantareira começou por causa da pouca chuva e das altas temperaturas no último verão. No inverno, segundo a meteorologista Josélia Pegorim, da Climatempo, os níveis de chuva estão próximos do esperado para a estação. “Todo o problema de abastecimento de água na Grande São Paulo é decorrente da falta de chuva que aconteceu especialmente no verão 2013/2014”, disse.

Segundo ela, a expectativa é de voltar a chover regularmente apenas em outubro. “O quadro de seca vai continuar. A expectativa é que a chuva comece a cair com alguma regularidade mais no final de setembro e principalmente em outubro”, diz. Ainda assim, a possibilidade de as chuvas atrasarem não está descartada.

O Sistema Cantareira é formado pelas represas Jaguari, Jacareí, Cachoeira e Atibainha. Elas ficam no estado de São Paulo e no sul de Minas Gerais. Juntas, as represas fornecem água para cerca de 9 milhões de pessoas na cidade de São Paulo (zonas Norte, Central e parte das zonas Leste e Oeste), além de Franco da Rocha, Francisco Morato, Caieiras, Osasco, Carapicuíba, Barueri e Taboão da Serra, São Caetano do Sul, Guarulhos e Santo André. Parte do interior do estado também recebe água do sistema.

Desde fevereiro, a Sabesp oferece bônus para os consumidores abastecidos pelo Sistema Cantareira que atingirem a meta de 20% de redução ou mais. Para esses consumidores, há desconto de 30% na conta. Dados da companhia, no entanto, mostram que bairros considerados de alto padrão tiveram a pior média de economia de água na capital no primeiro semestre de 2014.

A região dos Jardins, na Zona Oeste, foi a que menos reduziu o consumo na cidade entre janeiro e junho deste ano. Os bairros da região do Jaçanã, na Zona Norte, foram os que mais conseguiram reduzir a conta de água, com economia de 20,43% no primeiro semestre.

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