Saúde sofre de desatenção

Saúde. Dr. Gutemberg Fialho, Presidente do SindMédico
Dr. Gutemberg Fialho, Presidente do SindMédico

O médico Gutemberg Fialho, em rápida entrevista ao portal Guia BSB.net, diz que aguarda chamado do governo para ajudar na recuperação do sistema de saúde do DF.

Para ele, a forma de administrar o setor vem de encontro às necessidades da população e pode acabar de vez com a saúde pública.

Gutemberg afirma que a culpa da disseminação das infecções por bactérias multirresistentes nos hospitais é da falta de insumos básicos que o GDF não está oferendo.

O senhor está no terceiro mandato. O que poderia citar como o trabalho mais importante à frente do Sindicato dos Médicos?

Seria o Sindicato Itinerante, o trabalho de visita aos hospitais e centros de saúde para avaliar o atendimento e as condições de trabalho. Vimos unidades com falta de médicos, a grande maioria, com falta de vagas nos leitos, sem material para exames ou mesmo papel para receituário. Encontramos, em um centro de saúde, a sala onde deveriam ser realizadas pequenos procedimentos de clínica cirúrgica funcionando com arquivo de documentos da farmácia. Encontramos um senhor de 80 anos sentado há horas em uma cadeira sem encosto, médicos trabalhando sentados em cadeira sem encosto, também. Nesses casos, entramos com uma representação no Ministério Público, na Secretaria de Saúde do DF e no CRM, Conselho Regional de Medicina. Hoje faltam coisas básicas como algodão e álcool. Registramos a falta de remédios, medidas de bioproteção, servidores usando sacos de lixo como capote. Pesquisa feita na Ceilândia mostrou que a população quer que, antes de se construir ou hospital ou centro de saúde, se dê estrutura para os que já existem funcionarem.

Qual o déficit de médicos na nossa rede de saúde?

Existe uma carência de 3,5 mil profissionais. Fizemos uma campanha para contratação, mas o ex-governador Agnelo não contratou. Trabalhamos para possibilitar a ampliação da jornada de trabalho de 12 para 18 h porque muitos médicos não fariam mais horas extras ou até pensavam em demissão já que o Ministério Público dizia que somando as horas a mais trabalhadas, ultrapassaria o teto do funcionalismo público. O déficit, assim, ficaria ainda maior. Já o atual governo, em vez de contratar, tem tomado medidas impopulares, sugerindo que os servidores façam mutirão na tentativa de melhorar o sistema, parcelando os salários sem conversar, entrando com ação de inconstitucionalidade em relação ao aumento dado pelo Agnelo em 2013. Isso daria uma perda líquida de 40 por cento nos salários. Lutamos e, por 17 a zero, o Colégio de Desembargadores do Tribunal de Justiça do DF considerou o aumento constitucional.

Quais os desafios na área de saúde?

Em minha opinião, recuperar o Sistema Único de Saúde, o SUS, mudar a política, a forma de administrar. O modelo não é problema, é quem o administra. O governo federal precisa tomar a frente. O sistema de saúde brasileiro é municipalizado, mas as prefeituras não têm recursos para manter um hospital só com os recursos do Fundo de Participação dos Municípios.

Os médicos e servidores foram recentemente acusados de falta de higiene, de não lavar as mãos, o que levou a novos casos de bactérias tipo a KPC. Existe mesmo essa falta de noção básica de higiene?

Claro que não! O governo agora está vendo que fez acusações sem procedimento. O problema é como o médico ou o enfermeiro vai tomar todas as medidas de higienização se no hospital onde trabalha não tem álcool gel, não tem luvas e, às vezes, nem sabão para lavar as mãos. É um problema de gestão, de uso correto de recursos para não faltar coisas básicas como essas.

Qual a opinião do senhor em relação ao Siga Brasília, o novo aplicativo lançado recentemente pelo GDF para acompanhar as despesas e receitas do governo, a remuneração dos servidores e as escalas dos profissionais de saúde?

Esse aplicativo nunca funciona, as escalas de plantão nos hospitais e Centros de Saúde nunca batem, nunca é a realidade. Existem vários equívocos. Foi um resgate de uma iniciativa do governo anterior que não deu certo. Precisa é resolver a deficiência de médicos, dar uma informação fidedigna, sem maquiagem. Esse aplicativo leva a uma péssima relação médico/paciente, pois chegam ao consultório achando que o médico faltou, não tem responsabilidade. Então aquele um que está em atendimento é cobrado em dobro. Muitas vezes o médico que está sendo dado como faltoso está de licença, sabida com antecedência, ou mesmo nem trabalha mais na rede pública.

Como o senhor vê a ideia da terceirização?

A terceirização ou privatização só tem benefícios para o empresário, não deu certo em outros estados da Federação. Não temos exemplo que tenha funcionado bem. Acho que o governo está querendo, preparando o terreno para isso, tentando acabar com os hospitais para poder colocar na mão da iniciativa privada. É o precarizar para privatizar.

O que o senhor, à frente do sindicato, considera que devam ser ações imediatas na tentativa de se melhorar o atendimento na saúde?

Primeiro o governo nos chamar para uma conversa, não estamos tendo espaço para discussão, não somos consultados e acho que podemos contribuir. Segundo, mais recursos e foco na gestão dele. Terceiro, a valorização dos servidores e, em quarto, planejamento estratégico.

Qual a próxima ação do sindicato?

Em agosto, vamos voltar ao Sindicato Itinerante, fazendo visitas às unidades de saúde para elaborarmos um relatório, traçar o perfil regional. Queremos acompanhar o funcionamento de cada hospital, de cada centro de saúde para mostrar à população o quadro encontrado, sem maquiagem. Dessa forma, esperamos poder colaborar com a melhoria do sistema, mostrando ao GDF onde estão as falhas.

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