Com cirurgia bariátrica, reeducação alimentar e exercícios físicos servidor do DF perde 80 kg em 1 ano

Reeducação alimentar. Bibliotecário posa para foto com 156 kg (esquerda) e um ano depois, com 80 kg a menos (Foto: Marcelo Rodrigues/Arquivo Pessoal)
Bibliotecário posa para foto com 156 kg (esquerda) e um ano depois, com 80 kg a menos (Foto: Marcelo Rodrigues/Arquivo Pessoal)

Brasiliense comia 1 kg em self-service e não dividia refrigerante de 2 litros. Cirurgia bariátrica, reeducação alimentar e exercícios mudaram vida dele.

O servidor público Marcelo Rodrigues, de 31 anos, diz que não se percebia como uma pessoa obesa até ser alvo de piada dentro de um ônibus em Brasília. Segundo ele, ser usado como ponto de referência no transporte coletivo pelo motorista, que o considerou mais gordo que outro passageiro, foi um “baque” que o motivou a fazer uma cirurgia bariátrica e a perder 80 quilos em um ano.

“Entrei no ônibus, passei na roleta. Passei meio apertado, meio constrangido, de lado, parando um pouco em frente ao cobrador”, diz. “Aí, umas três paradas na frente, entrou um cara gordinho, deu sinal e só botou a cabeça assim na porta do ônibus e pediu para o motorista abrir a porta de trás. Aí o motorista falou, se referindo a mim: ‘Não, pode passar por aí. Se o outro gordinho passou, você também passa.”

Rodrigues conta que ficou surpreso. “Eu estava na minha, ali quieto, e o cara ‘tirando’ da minha cara. Ser usado como referência é o limite dos gordos”, diz. “Vi que o cara era muito gordo. Quer dizer que sou mais gordo que ele?, pensei.”

Marcelo Rodrigues veste roupas que usava antes de perder 80 kg (Foto: Marcelo Rodrigues/Arquivo Pessoal)
Marcelo Rodrigues veste roupas que usava antes de perder 80 kg (Foto: Marcelo Rodrigues/Arquivo Pessoal)

Embora sempre tenha sido acima do peso, Rodrigues diz que começou a ganhar peso em excesso aos 19 anos, quando se mudou para Goiânia para estudar. Foi então que abandonou todo tipo de atividade física. “Morava em uma república, então trabalhava e estudava. Não tinha tempo para fazer exercício, morava sozinho e não tinha a alimentação regular. Comia só sanduíche, miojo, bife, cachorro quente”, diz.

“Trabalhava num call center sentado, saía do trabalho e ia para casa, comprava um cachorro quente, fazia um lanche e dormia. Foi essa maratona durante uns seis, sete anos. Era muito refrigerante, muita pizza.”

O bibliotecário conta que prestava muita atenção ao preço do self-service nos restaurantes, porque comia exatamente um quilo de comida. “Se chegasse em um restaurante e falasse que o quilo era R$ 20, se eu não tivesse o suficiente, não comia. Me baseava pelo peso do quilo, e não por menos”, diz.

Ele também não compartilhava a bebida que acompanhava as pizzas que pedia por telefone. “Eu comia uma pizza inteira com quase dois litros de refrigerante. Pedia sozinho na república. Às vezes tinha até um amigo que chegava e eu dizia que não daria um pedaço porque a pizza toda era só para mim.”

Em um passeio a um parque de diversões na Europa, Rodrigues conta que não conseguiu andar na montanha russa porque a trava de segurança não fechou. “Os funcionários ficaram empurrando a barra para ver se travava, e ela não travava. Eles tentavam, falavam para mim em inglês ‘push’, ‘push”, diz. “Fiquei meio sem graça, estava com duas amigas. Disse: ‘vão vocês’. Elas ficaram sem graça e eu fiquei muito constrangido.”

Durante a faculdade, ele engordou 50 quilos. “Via meus pais a cada dois meses, e quando voltei de vez eles se assustaram muito”, afirmou. “Me disseram que eu tinha que fazer redução [cirurgia bariátrica], mas eu acreditava que só fazia redução quem estava em cima da cama e não conseguia mais andar. Eu acreditava que poderia emagrecer por conta própria. Mas eu nem tentava. Por mais que eu me visse gordo, pensava que na hora que eu quisesse emagrecer, conseguiria.”

Rodrigues nunca conseguia emagrecer. Poucos dias depois do incidente do ônibus, durante uma queima de fogos no réveillon do Rio de Janeiro, o brasiliense prometeu a si mesmo que perderia peso. A primeira medida foi ligar para um médico para conversar sobre uma possível cirurgia.

Rodrigues em foto recente durante treino (Foto: Marcelo Rodrigues/Arquivo Pessoal)
Rodrigues em foto recente durante treino (Foto: Marcelo Rodrigues/Arquivo Pessoal)

Quando passou pelo procedimento, Rodrigues pesava 157 kg. “Para mim foi a melhor coisa, não vi dificuldade nenhuma, não senti dor, não senti depressão”, diz. Ele afirma que após a redução não conseguia comer, mesmo se quisesse. “Passei oito meses sem vontade de comer. E qualquer quantidade que você come, sacia. Em um ano, perdi 80 quilos.”

No primeiro mês, a redução foi de 15 kg. “Nos meses seguintes perdi 8 kg, 7 kg, e aí vai indo. Durante um ano todo você perde”, afirmou. “O médico disse: você vai emagrecer, mas continuar magro depende de você.”

Depois de três meses de cirurgia, Rodrigues começou a correr. Por conta da pele esticada, ele usava uma cinta. Foram seis cirurgias para reduzir o excesso de pele. “Fiz barriga duas vezes, peito, coxa, lipo, costas”, diz. “O que deixava mais triste era a barriga. Com roupa não dá para perceber muito, mas sem roupa dava para ver a barriga pendurada, fazendo pochete.”

As diversas cicatrizes não incomodam. Ele conta que as marcas lembram ele de como pode voltar a ficar se não se cuidar. “Olho para elas e vejo que não posso dar mole”, disse ele, que afirma fazer musculação religiosamente.

“Hoje em dia, com cinco anos de cirurgias, se for no rodízio consigo comer três fatias de pizza e pronto. Dizem que é preciso também mudar a cabeça compulsiva, mas não adianta, o que você comer além daquilo vai voltar.”

Rodrigues disse que tudo melhorou na vida dele após a perda de peso. “[Melhora] a disposição física, de estar bem com o seu corpo, ele responder ao que você precisa. Agora dou conta de correr, tenho disposição de trabalhar mesmo.”

“Acho que a questão do emagrecimento é como a questão do tabagismo. Você não vai conseguir virar para o cara que fuma e falar, ‘você tem que emagrecer’. A pessoa só vai parar de fumar na hora que quiser parar de fumar. Isso só cai a ficha na hora que ele achar. A vontade tem que vir de dentro”, afirmou.

“Se a pessoa não teve um baque, que foi o que tive no ônibus e no parque de diversões, ela não se sente motivada. Tem que ter um motivo, nem que seja uma aposta com um amigo.”

Fonte: G1.com

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